Falta pouco!!!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

ÁFRICA, BRASIL, HISTÓRIA E FUTURO

O Brasil tem uma dívida histórica e cultural com os povos africanos, como uma imensa familiaridade de gostos, músicas, comidas e jeito de ser. Da população brasileira, 47% são afro-descendentes. Por isso, refazer relações mais solidárias com a Mãe África é nos relacionarmos com nossas raízes e resgatar nossa história.

Há décadas, pessoas saem da Bahia, de Minas e do Maranhão e, no lugar de correrem à América, como sugeriu a novela global, viajam à África. Muitos vão para reencontrar raízes e parentes. Alguns ficam morando na Nigéria ou no Daomé.
Em extensão, a África é o terceiro continente do mundo. Conforme as pesquisas mais atuais, ali surgiu a vida humana. Encontraram-se vestígios de presença humana que remonta a mais de um milhão de anos. Algumas culturas e religiões africanas, cujas tradições geraram cultos afro-brasileiros, nasceram há cinco mil anos e, até hoje, orienta a vida de muitas pessoas e comunidades. Entretanto, apesar de toda esta riqueza histórica e cultural, a África continua vítima de uma relação internacional iníqua.

A Hegemonia Européia

A situação do continente é trágica. No Sudão, calcula-se que a guerra deixou mais de 50 mil mortos e 1,6 milhões de refugiados e exilados, só em 2004. A hostilidade entre hutus e tutsis, que provocou o genocídio de mais de 2 milhões de pessoas, em Ruanda (1994), continua nas fronteiras do Congo, Angola e Ruanda. Em vários países a democracia é quase inexistente. Conflitos armados e guerras declaradas ferem o continente. Na maioria das nações, a água é um bem raro, a fome assola regiões inteiras e a AIDS ameaça a vida de milhões, entre elas muitas crianças.
Isso não ocorre por que a África seja pobre. Ao contrário. Tem riquezas naturais que encantam turistas e recursos minerais como petróleo e pedras preciosas. Seus habitantes são inteligentes, criativos e trabalhadores. Mesmo com adversidades climáticas e em terras pobres os africanos viveram bem durante milhares de anos até que chegou o homem branco. Os colonizadores tomaram o governo e as terras da África, roubando tudo o que podiam. Durante séculos utilizaram os africanos para fazê-los trabalhar gratuitamente e se apossaram de suas minas e riquezas. Em três séculos, a África perdeu 60 milhões de habitantes devido ao tráfico de escravos. Destes, só 15 milhões chegaram vivos ao destino. Enquanto isso, na própria África, os europeus se apossavam Fe tudo e dominavam as populações sobreviventes.
A partir dos anos 50, os países africanos conseguiram a independência política. Entretanto, os colonizadores impuseram fronteiras artificiais que deram origem aos novos países. Separaram grupos humanos pertencentes às mesmas tribos, com dialetos e costumes comuns, e mantiveram, através de legislação imposta aos novos governos, a hegemonia européia. Isso gerou violento processo de segregação racial na qual o africano é considerado inferior na sua própria pátria. As consequências são guerras, massacres, genocídios entre povos africanos. E uma estrutura social injusta: no Zimbábue, por exemplo, 2% da população branca detêm a quase totalidade das terras e da economia.

União contra a Pobreza

Libertar a África e contribuir para um mundo mais justo e humano exige de nós reinverter as distâncias mentais e culturais. Até hoje, é mais fácil encontrar brasileiros que sabem os nomes dos rios da França, das praças de Londres e das cidades da Itália do que de qualquer país ou cidade da África. Poucos brasileiros sabem que Yaoundê, a capital da República de Camarões, é parecida com muitas de nossas cidades do interior do nordeste. A maioria nunca ouviu falar em Abdijam, cidade que olha para Recife do outro lado do Oceano, mais ou menos, na mesma latitude, com o mesmo clima e muitos problemas semelhantes. Mas os pernambucanos foram formados escutando que Recife é a Veneza Brasileira. A referência é sempre a Europa, branca e rica. No Brasil, quem sabe onde fica Darfur, Kartoum ou Dar es Salaam?
A urgência disso não é apenas aprender geografia, mas descobrir que temos muita coisa em comum e, se nos unirmos, fica mais fácil vencermos a extrema pobreza que ameaça a vida de milhões de pessoas e, juntos, cuidarmos do planeta Terra como casa comum de todos os humanos.
Uma das fortalezas, nas quais eram aprisionados os escravos para serem embarcados ao Brasil, fica em Gana. Na parede do forte permanece uma inscrição dos chefes ganeses:”À memória eterna da angústia de nossos ancestrais. Que aqueles que morreram descansem em paz. Que aqueles que regressarem encontrem suas raízes. Que a humanidade nunca mais cometa semelhante injustiça contra a humanidade. Nós, os vivos, juramos não fazê-lo.” Diante de um continente inteiro que morre à míngua, como consequência da barbaridade cometida ontem e hoje , não basta não repetir o tráfico. É preciso combater suas raízes: o racismo e a injustiça social.

Texto de Marcelo Barros – monge beneditino e escritor publicado na revista Mundo Jovem em agosto de 2007.

Texto utilizado pela Prof. Silvia com a turma 3001.